17/09/2014

Lembra-me

Verão, apesar da fogosidade do calor, é, por norma, a estação dos temas amenos, como diria o poeta e cantor do cão engarrafado. A saudade e a memória entrecruzam-se bastas vezes com essas amenidades que no fim de contas não são mais do que aquilo que temos de mais significativo enquanto por aqui andamos. Foi neste clima que durante as férias aproveitei para reler e sobretudo rever a primeira edição do livro de Mª. Alfreda Cruz dedicada à “Pesca e aos pescadores de Sesimbra”, datado de 1966. Para além da descrição feita ao longo do livro, o que mais me cativou foram as imagens fotográficas presentes no livro. Apesar de pertencerem a uma memória que não é minha, tive o prazer de fazer uma leitura partilhada com os meus pais numa destas frias noites de Agosto. A busca dos locais e sua catalogação foi um exercício divertido. Tão divertido como difícil foi sobrepor o mapa emocional de uma Sesimbra que já não existe, com a Sesimbra actual. O livro e a conversa permitiram que me transportasse para as minhas memórias, que embora mais recentes, também me levam a uma Sesimbra muito diferente da de hoje. Mais do que avaliar o que está melhor ou pior, interessou-me perceber as diferenças e lembrar-me. Gosto muito mais de me lembrar do que de recordar. As memórias, sobretudo as boas e felizes, são um exercício que nos faz sentir tão bem. É necessário ter o cuidado de não entrarmos em excessos de nostalgia que acabam por nos deixar sempre um pouco tristes. Perceber a importância das coisas passadas, a que no momento em que ocorreram não demos qualquer relevo, é encantador. As imagens dos tectos das “lojas de companha” decoradas com cabaças fazem-me lembrar os jogos de futebol que fazia com a malta do bairro da cooperativa, no meio da estrada, tão pouco frequentada, que segue para o tribunal. As imagens do casario e dos bairros da época lembram-me os grupos de jovens, que pontificavam em cada um dos aglomerados, do “largo da Guarda” da “Calviteira”, da “Fonte Nova”, do “Bairro de Pescadores” e do “Bairro da Cooperativa” que alegravam uma vila cheia de vida e juventude. Lembro-me tanto, que me esqueço das lembranças que terão meus filhos duma Sesimbra com gente dentro. Carlos Alexandre Macedo varamessaiola.blogspot.com Esta texto não obedece ao novo acordo ortográfico por opção do autor 25 Agosto de 2014 Publicado n'O Sesimbrense'

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