16/07/2010

Os custos da demagogia para ganhar eleições

Com toda a pompa e circunstância que nos vem habituando, o executivo municipal anuncia, na última edição da revista propagandística do Partido Comunista no concelho (vulgarmente denominado de “Sesimbra Município”), o futuro Parque da Ribeira. A primeira fase deste novo espaço verde, a criar na Quinta do Conde, resultará, nas palavras do presidente, da colaboração da Câmara Municipal com os “promotores de diversos espaços comerciais a localizar a nascente da EN10, entre o nó desnivelado e a A2”. Estamos na presença de mais uma das parcerias público-privadas promovidas pelo município. Se dúvidas houvessem, o edil desfê-las no conveniente editorial que assina no referido boletim propagandístico (que, sendo em boa parte suportado pelos contribuintes, deveria acima de tudo prestar um serviço público, de informação e formação, ao invés de apenas propagandear) ao afirmar que este “é um modelo de parceria que já se revelou profícuo no Parque da Vila”. Nada de novo portanto. As grandes superfícies comerciais chegam a Sesimbra (ou à freguesia da Quinta do Conde, neste caso específico), acenam com as suas notas verdes, e possibilitam à Câmara fazer algo com visibilidade em troca de um crescimento desproporcional e desregulado e voilá… a obra nasce. Obviamente, que a câmara nunca fez, nem fará (porque não lhe interessa) qualquer estudo ou avaliação para perceber quais os custos de existirem tantas superfícies comerciais na Quinta do Conde, quantos postos de trabalho duradouros se perdem e quantos postos de trabalho precário se ganham, qual o emprego qualificado que se cria, quais os danos criados aos pequenos empresários e comerciantes da freguesia, quais os impactos na vida social da freguesia, na criação e/ou aprofundamento do conceito de vizinhança, de proximidade, de identificação com a terra em que se vive. Alguma vez, alguém mediu se a relação entre os postos de trabalho criados pelas grandes superfícies comerciais e os perdidos no comércio tradicional beneficia o concelho? Uma coisa é certa, a riqueza dos pequenos comerciantes fica no concelho e a dos Belmiros e Soares dos Santos não.
Alguém já se perguntou porque razão a criação de espaços verdes depende dos interesses comerciais avulsos de grandes grupos e não são antes pensadas de forma integrada no concelho de forma estratégica e integrada numa política de criação de espaço público, ou seja, pensando nas necessidades dos municípes? Porque raio não existe nenhum grande espaço verde digno desse nome no concelho desenvolvido única e exclusivamente por iniciativa dos mais recentes executivos municipais? Não me digam que o partido comunista não teve tempo desde o 25 de Abril? Era mais importante possibilitar, promover e abrir caminho à criação de uma cidade da dimensão de Viseu na Mata de Sesimbra? Felizmente para nós que o mercado do imobiliário tem destas coisas, rebenta! Não sei se por inexperiência dos comunistas em práticas neoliberais, se pela insustentabilidade dos mercados especulativos, ou se por ambas. Alguém alguma vez se perguntou porque razão a vila de Sesimbra não tem um parque verde, e a freguesia do Castelo viu o seu circuito de manutenção transformado em estaleiro municipal? Há racionalidade nisto?
Não, claro que não. Há demagogia e uma velha escola que permite ganhar eleições.
A meio deste mês realiza-se no concelho um festival de rock, e concelho que é concelho tem de ter um festival de rock. Se o concelho tiver pretensões de ser turístico, ainda é mais importante que decorra na sua área geográfica um festival de rock. Eu percebo isso tudo, só me faz um bocado de “espécie” que o local escolhido para a realização do concerto de rock seja na proximidade de uma zona reconhecida pelo seu interesse ecológico e que tenha sido inclusive alvo de parcerias entre a Câmara Municipal, o Instituto de Conservação da Natureza, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, etc. É verdade que o patrocinador do evento é uma marca de cervejas, facto que não conflitua, à partida, com uma zona húmida como a lagoa de albufeira. Ainda assim convém perceber o comportamento das importantes espécies de aves que nidificam nessa zona. E, das três, uma: ou as aves são surdas, ou gostam de prince (imaginem garças, mergulhões e rouxinóis a curtir o “Sexy mother fucker”), ou a câmara municipal vai oferecer-lhes tampões.

publicado na edição de 9 de Julho do Jornal "Nova Morada"

2 comentários:

Anónimo disse...

Excelente post!!
Estou de acordo contigo em todos os aspectos.
Mais.. muito me admira que o ICN tenha "autorizado" tal evento junto a uma das áreas mais sensíveis da zona metropolitana de Lisboa. A porcaria do barulho é tanto que se houvem os concertos na Lagoa de Albufeira e em Alfarim.. imaginem na zona da Lagoa Pequena.. e o barulho dos concertos acaba às 4h00 da manhã!!! E não são apenas as aves, existem muitas outras espécies (raposas, mangustos, coelhos, entre outros) que irão sofrer com a idiotice humana para criar qualquer tipo de diversão.
Tranformarem todo o vale em parque de estacionamento também é muito inteligente.. assim como obrigarem as pessoas (residentes incluídos) a darem uma volta de 30km (+/- 5 a mais) quando estes querem ir para os lados do Seixal ou Lisboa.
Sinceramente.. existem locais mais apropriados no Concelho para a realização de eventos deste género, e com muito mais benefício para a economia local, e sem incomodarem tanta gente e a natureza!
Só espero que nenhum engraçadinho se lembre de ir fumar umas ganzas para a mata e pegue fogo a um dos pulmões da área metropolitana de Lisboa!
... Por mim, para o ano (sim, porque pelo que me chegou aos ouvidos esta porcaria vai realizar-se por cá nos próximos 4 anos), BEM QUE PODEM IR PARA OUTRO LADO!!!....

El Roxo disse...

Se pensas/pensam, que o Presidente da Câmara é comunista, estás/estão,enganados. Ele só pensa no dinheiro. No que há e no que não há e como se aliar aos grandes grupos, sem olhar a meios e cedências, para mostrar obra que não é ele (a Câmara - não há dinheiro)a fazer. A vila está decadente, não fora os promotores do Sesimbra Hotel & Spa a fazerem os arranjos da marginal nascente e o novo passadiço até à fonte do Caneiro e a APSS a arranjar o porto de abrigo e arredores, o que é que a Câmara tinha feito? Nada. Só sabem colocar pilaretes, e nós nem temos corridas de touros como em Espanha. O estacionamento continua caótico, excepto para os ciganos que são donos e senhores do Largo da Câmara e do Largo Eusébio Leão. A nova obra de arquitectura "polvorosa" no Largo do Município, não vai ser mais do que criar uma piscina para aquela minoria, que já não o é. Nos últimos tempos têm-se multiplicado e já ocupam lugares dos nossos autarcas com total despudor e próximo do usucapião. As janelas da Câmara estão encerradas para estas vistas, mas não para outras onde a mão do Augusto Estaline e seus acólitos se fazem sentir dum modo escabroso e que já não se usa nem na Indonésia. É óbvio que as atenções estão viradas para a Quinta do Conde, onde o número de eleitores é bastante superior e isso é que conta. Temos visto o que ali se tem feito e o que pretendem fazer -sabe-se lá a que preço?-. Vamos ver quais são as desculpas para o projecto da Mata, para o projecto da Av. da Liberdade, para o arranjo da mata junto ao campo de futebol.Vamos ver a quem cabe as "casas da felicidade" junto ao colégio do Costa Marques. Ainda não passou um ano e já mostraram de que matéria são feitos e como olham aqueles que pensam de modo diferente.
Sesimbra sempre foi uma terra de tolos, invejosos e convencidos. Agora não passam de parvos,vencidos e mendigos que são papados todos os dias por esta gente e outra que lhes roubaram o sustento e o sorriso a troco de nada. O mesmo irá acontecer ás novas zonas do concelho e só lhes resta um caminho: "a independência" - se forem capazes!