10/12/2009

Muros

São muitos os muros com que nos deparamos na vida. Mediante a nossa força e disposição, saltamos, quebramos ou furamos os muros que encontramos.
A forma de os ultrapassar depende, em boa parte, da sua base de sustentação. Por vezes é até melhor contorná-los. Existem muros e muros, muros bons e muros maus.
Existe uma coisa boa nos muros; fazem-nos mais fortes. Enfrentar um muro é normalmente uma tarefa árdua e ultrapassá-lo é um exercício de sacrifício e esforço compensadores.
Os muros têm, por vezes, recursos que quem os enfrenta não têm. Por muito frágeis que possam ser (e muitas vezes são-no), no seu interior, os muros, têm sempre uma couraça aparentemente inexpugnável.
Existem muros pintados de verde, coisas com mais de 20.000 tijolos, feitos de esquemas e de mentiras, mas apresentados como sustentáculos necessários ao desenvolvimento, mas que, no fundo, quando confrontados de forma séria, são frágeis e argilosos no seu interior. Cheiram tão mal estes muros… São muros de vergonha e irresponsabilidade. São muros muito altos, talvez inalcançáveis para os comuns mortais, mas que se desfazem com o tempo deixando um rastro de destruição nos sítios onde são levantados, pois o seu interior feio, porco e sujo rompe a couraça verde que os escondeu. Infelizmente, estes muros nunca deviam ter existido, mas a estupidez e a ambição desmesurada dos homens permite a sua criação. O resultado nunca é bom e o efeito leva à sua queda, muitas vezes tardia e com danos irreparáveis.
Existem também os muros da facilidade, que se constroem em função das sombras que criam. Quantos mais se colocam à sombra do muro, maior e mais forte este se torna, todos querem entrar. Todos querem viver na sombra do muro, todos pedem aos donos do muro um lugarzinho, por mais pequeno e irrelevante que seja. O que interessa é entrar, depois se vê! Tudo é fácil, à sombra do muro. Tudo é certo e garantido, à sombra do muro. Quanto mais fácil é, mais são os que querem entrar. Os donos do muro querem que entre cada vez mais gente porque essa dependência da sua sombra dá-lhes poder, torna-os relevantes, abre-lhes portas e reforça-lhes a posição. Quanto mais deles dependem, mais pedem e mais fortes ficam os donos do muro. O problema é que o muro para fornecer toda essa sombra, fica tão alto, tão alto que acaba irremediavelmente por cair. Nessa altura, normalmente, muda-se o dono e começa-se a levantar outra vez o muro e a dar nova sombra.


Decorreram 20 anos da quebra do muro que dividia a Alemanha e o mundo. Ainda bem que pelo menos esse muro caiu.

Texto publicado no Jornal Nova Morada de 4 de Dezembro de 2009

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