28/01/2009

A antecipação e o tiro ao lado

As duas entradas abaixo são relativas a dois textos de opinião datados de 2005, assinados por dois economistas com ligações ao nosso concelho, Adelino Fortunato e João Aldeia. O primeiro foi mandatário da minha candidatura autárquica em Outubro de 2005, o segundo é responsável pelo gabinete de planeamento estratégico da Câmara Municipal de Sesimbra.

A ambos reconheço grande interesse no positivo desenvolvimento do concelho. Num caso por adopção, noutro por nascimento ambos têm opinado sobre os mais diversos temas e sobre a sua influência na vida do concelho.

Os textos que aqui apresentei servem para demonstrar dois pontos de vista quase antagónicos: um mais catastrófico, de Adelino Fortunato, prevendo a explosão de uma bolha financeira sustentada na especulação imobiliária; e outro, de João Aldeia, que tenta desmontar a opinião do primeiro acusando-a de fazer política da terra queimada e como sendo um resíduo do esquerdismo revolucionário, chegando a considerar o diagnóstico de Adelino Fortunato completamente errado.

Passados 4 anos, o texto de Adelino Fortunato assume um carácter premonitório, enquanto a argumentação contrária é praticamente esvaziada pela forma avassaladora como a crise financeira se instalou.

Ao arrepio desta troca de opiniões, João Aldeia, no seu texto acaba por defender os projectos imobiliários para a Mata de Sesimbra, afirmando peremptoriamente que o texto sobre a bolha especulativa de Adelino Fortunato pretendia apenas atacar esse projecto, que nas suas palavras são de "inegável qualidade".

A bolha especulativa do imobiliário já rebentou e o embuste do plano de urbanização da Mata, espero, há de rebentar!

9 comentários:

Anónimo disse...

Obrigado Carlos Macedo.
O exercício da memoria nunca fez mal a ninguém e o tempo encarrega-se mostrar de que lado está o conhecimento... e a verdade.

Como dizia o outro:
"...é a politica, estúpido."

Aguardo o que dirá J. Aldeia sobre o rigor das suas opiniões sobre a matéria. Estou certo que, desta vez, reconhecerá que não esteve bem.

Adelino Fortunato, acumula um profundo conhecimento nas questões da macro economia com um apurado sentido politico da realidade.

Mais uma vez, Carlos Macedo, muito obrigado por me avivar a memória.

M.

Anónimo disse...

Há uns mais lúcidos que outros.
Uns vêm mais longe que outros.
Ambos os opinadores me merecem respeito, mas um mais do que outro.
Quanto à crise económica, espero que se resolva com merecidas consequências naqueles que a criaram.
Quanto ao projecto Mata de Sesimbra, desejo que impluda.

Anónimo disse...

Ele há textos que são proféticos !
Tudo o que o Prof. Adelino Fortunato escreveu, com varios anos de antecedência(e não foi só este texto) relativamente á crise financeira e á bolha imobiliária só não foram profecias porque éstas assentam numa dimensão de advinhação esótérica, e o que o Prof Adelino Fortunato escreveu assenta numa análise de um profundo conhecimento de especialista e de um competente economista e académico. Tudo o que está expresso no texto está a acontecer e com contornos e consequências bem mais catastroficas do que se esperava. Estou em "pulgas" para conhecer o estudo do economista Agusto Mateus encomendado para "tentar" contrariar a historia e a economia mundial! mas certamente que Mateus fundamentará o seu estudo nas "profundas e certeiras" reflexões de João Aldeia !!!?

Joao Augusto Aldeia disse...

Carlos Macedo: peço-lhe que me deixe tratá-lo assim, e também que me trate apenas por João Aldeia. Agradeço a citação do meu texto e a forma leal como coloca o assunto neste post, motivo pelo qual procurarei dar uma resposta fundamentada, ainda que breve:

1. A bolha especulativa do imobiliário nos EUA era conhecida há muito tempo. Essas subidas especulativas e artificiais de preços, e subsequentes colapsos, são endémicos e frequentes no capitalismo. Ora, embora ela tenha estado na origem desta crise financeira, não é o seu motivo ou causa principal: essa causa é a complexa teia de multiplicação de títulos financeiros (titulos sobre títulos), quase não controlados pelas autoridades monetárias, bem como actuações empresarias desonestas ou usando furos na lei, de que parece ser exemplo o caso do BCP em Portugal. É por isso que ela se chama "crise financeira".

2. O que foi construído e adquirido como segunda habitação em Sesimbra, tem a ver essencialmente com uma procura de gente que vive próximo (Lisboa, etc) e não com pura especulação, como aconteceu em Espanha, por exemplo. Todos os analistas reafirmam a diferença entre as duas situações, e ainda esta semana isso foi feito pelo bastonário da Ordem dos Engenheiros, no Hotel do Mar, numa conferência que poderá encontrar comentada no Sesimbrense que sai amanhã.

3. O empreendimento da Mata tem qualidade intrínseca, é a minha opinião, baseada na leitura do projecto. Tem também muitas possibilidades de vir a correr mal (isto é: não ser cumprido o plano, construirem-se os edifícios e não se renaturalizar a floresta, por exemplo), e por isso defendo um controlo especial do andamento desse empreendimento. Já disse e escrevi isto, e felizmente esta posição está em posts antigos, que eu, confesso, não tenho esperança nenhuma que um dia venha a citar; cada um puxa a brasa à sua sardinha, não é?

4. Quanto ao argumento "agora há casas que não se vendem, logo nós tinhamos razão". Caro Carlos Macedo: há casas que não se vendem, tal como há mercadorias que não se escoam, e qualquer dia (oxalá não) peixe que não encontra comprador. Isso é razão para se dizer que não se pesque, não se fabrique, não se construa? Creio que não.

5. Carlos Macedo: o papel político que está a desempenhar, e com mérito, está nitidamente na senda da vulgata marxista (um tanto mascarada no BE, para explorar um certo "frentismo"), e é curioso que tem enormes semelhanças com o que eu fiz, em Sesimbra, nos meus 20 anos. Há diferenças e os tempos eram muito outros, claro, mas essa semelhança, acredite, desperta-me simpatia. Eu agora, porém, não tenho alinhamento ideológico; em consequência, sou olhado com desconfiança por um e outro lado. E, como deve calcular, é mais fácil apontar o dedo e criticar, na praça pública, as ideias das pessoas que não são da nossa "seita" , do que fazê-lo para reconhecer mérito. Espero que se dê bem com a companhia que essa atitude atrai, nomeadamente nos blogs. No meu caso, não me fez mal.

Dito isto, não me leve a mal se o aconselhar, mais uma vez, a ler a próxima edição do Sesimbrense. Eu não sou dos que, por convicção ideológica, só revelo a "verdade" que me interessa (mas alguém será capaz de o reconhecer? Duvido).

Finalmente: como trabalhador do sector pesqueiro que é, e com laços familiares no mesmo, dou-lhe os parabéns pelo facto de terem colocado Sesimbra como primeiro porto de pesca do país. Não sei se admite que fui o primeiro a defender publicamente, como economista, e contra a corrente, a vitalidade e prevalência das pescas de Sesimbra, algo que também está escrito, e não só em blogs, mas que, do mesmo modo, não tenho esperança que alguém cite.

Um cordial abraço

Joao Augusto Aldeia disse...

Um comentário rápido, e globalizador, a alguns outros comentários aqui expressos: eu gosto do debate de ideias, que pratico com lealdade. Ouço/leio os argumentos quando intervenho procuro fundamentar, e não insultar. No entanto, é duro ter de aturar gente que não adianta um único argumento, mas usa a esperteza semântica para nos chamar, directa ou indirectamente, estúpidos. Ainda não perceberam que sempre que falamos, falamos de nós próprios?

Carlos Alexandre Macedo disse...

Caro João Aldeia agradeço-lhe o comentário e a forma cordata como comenta os últimos posts colocados neste blogue.
Obviamente, e como compreenderá, não concordo com muito do que afirma, mas as opiniões são assim, cada um tem as suas. O tempo tem a particular capacidade, de com a sua passagem, por vezes nos dar razão.

Por isso, não tenho pretensão de o demover da sua opinião, nem de o convencer que a minha visão será a mais correcta ainda assim, aos olhos da realidade que hoje vivemos, penso que peca por omissão quando diz que a crise é resultado de uma complexa teia de multiplicação de títulos financeiros, não especificando que esses títulos estavam sustentados na especulação imobiliária, como os afamados sub-prime. Convém ainda acrescentar que se a classificação de sub-prime americana fosse aplicada a muitos dos empréstimos para habitação em Portugal, o resultado iria confirmar que uma grande fatia do endividamento imobiliário dos portugueses assumiria a mesma classificação.

Adequação da oferta à procura no mercado habitacional não pode, na minha opinião, ser comparado ao mercado dos produtos perecíveis como o peixe. Ao contrário do que tenta dar a entender, não estamos a falar da mesma coisa, nem que seja pelo facto de as casas de Sesimbra não poderem ser arrancadas e plantadas em França caso o mercado colapse e a procura não corresponda à oferta. Poderá rebater afirmando que a abertura de mercado também pode ocorrer no mercado imobiliário, alinhando na ideia de que ors ricos povos da Europa do Norte poderão comprar essas casas, o problema é que também eles estão em crise. Outra agravante, reside na necessidade que todos temos de comer, de uma segunda habitação, tenho dúvidas.


O projecto da Mata, da herdade da Comporta, da Nova Setúbal, Freeport, etc, enferma do crasso erro estratégico da multiplicação de activos por processos administrativos, permitindo o roubo ao erário público das mais valias resultantes das alterações das classificações do solo. Isso é pura especulação, esse é um dos problemas que estão na base da actual crise. Sobre isso, já escrevi muita coisa que como é óbvio também creio que nunca virá a citar. Cada um puxa a brasa à sua sardinha, sendo que a minha sardinha é a da defesa de uma estratégia de defesa do futuro.

Quanto à forma como classifica o movimento político que represento, deixe-me que lhe diga, soa-me um pouco a resquícios de uma adolescência um pouco mal resolvida. Mas essa é uma situação à qual estou mais ou menos habituado. O rebatimento da diferença de opinião ou concepção de desenvolvimento da sociedade é várias vezes rebatido com a classificações tipo: vulgata marxista com um certo frentismo; resíduo de esquerdismo revolucionário; trotskistas; extremistas de esquerda; esquerda caviar; etc. Quando isso chega através do PCP, percebe-se pela forma rústica do seu sectarismo. Quando vem de outros sectores, advém normalmente de borbulhas adolescentes mal saradas. Quem me conhece, sabe como penso e qual a minha forma de estar na vida. Abomino o sectarismo e respeito todas as opiniões. Estou no Bloco de Esquerda porque é isso que lá encontro, tolerância, respeito, diversidade.

Quanto às minhas companhias, são as que escolhi. Não dependo da política, não vivo para a política, acredito que viver é política.

Joao Augusto Aldeia disse...

Carlos Macedo: nenhum analista, de que eu tenha conhecimento, atribui aos empréstimos do sector financeiro português à construção e aquisição de casas, as características de volatilidade e opacidade do sub-prime: nisso o meu desacordo consigo é total. A mistura do colapso do imobiliário com a fantástica multiplicação dos financimentos não regulados, nos EUA, é que está na origem da crise e da sua gravidade. Ora, esta mistura não foi antecipada pelo Adelino Fortunato, cuja previsão, aliás (pode ser lido no texto dele que reproduziu) era de que as consequências seriam explosivas por causa da baixa inflação (argumento bisonho...) e piores em Portugal por causa da "irracionalidade urbanística" que seria uma especificidade nossa. Ao contrário de que o Adelino Fortunato "previu", as consequências em Portugal são relativamente menos graves do que noutros países (basta ver a Espanha) porque o problema uebanístico em Portugal não tinha essa gravidade.

Admita a seguinte hipótese: um pequeno país onde a construção de habitações era comedida. Depois, uma crise com origem noutro país provoca falências bancárias, instabilidade no sistema financeiro mundial, aumento do risco e das taxas de juro, etc. Não é de prever que, até mesmo neste pequeno país, a venda de casas, e de peixe, e de todos os outros bens, mesmo os não transaccionáveis (que não se exportam), venha a ter problemas? Era a isso que eu me referia: sei muito bem a diferença entre casas e peixe.

Vejo com satisfação que acumula competências no domínio da Psicologia Adolescente: não sei se as "borbulhas" de que fala também são da família das "bolhas imobiliárias", mas aguardo serenamente que o professor Adelino Fortunato teorize sobre o assunto.

Mas não considere um ataque pessoal as minhas palavras: o que eu ataco é essa "vulgata marxista", que eu próprio divulguei em Sesimbra através dum jornal que fundei e dirigi em 1975/76, e que ainda domina, e não o seu desempenho político, que é louvável e que tem mérito.

Lamento que não tenha comentado a Pesca, que me parece assunto mais interessante.

Um cordial abraço.

Carlos Alexandre Macedo disse...

Caro, João Aldeia, mais uma vez agradeço-lhe os seus comentários e opiniões. A antecipação de factos é uma ciência que nem sempre se bate certo e nem sempre se acerta em tudo.

Anónimo disse...

O dr. João Aldeia exulta com o facto "de terem colocado Sesimbra como primeiro porto de pesca do país". Isto não é nenhuma demonstração da vitalidade e prevalência das pescas de Sesimbra como ele teima em afirmar. É apenas uma demonstração da vitalidade do porto Sesimbra. Não confunda as coisas Dr. João Aldeia !

MP