25/11/2008

Desculpas e Obrigados

Os leitores deste jornal por certo se aperceberam que na última edição o Sr. Presidente da Câmara utilizou o seu espaço de crónica, e auto-elogio à sua governação dos destinos do concelho, para rebater o texto que publiquei neste mesmo espaço no mês de Novembro.
É estranho que assim seja pois o Sr. Arquitecto e analista político, tem por hábito utilizar o seu espaço neste jornal para promover as medidas que toma enquanto presidente da Câmara, numa espécie de consagração da máxima comunista da última campanha autárquica, o Carnaval todo o ano, tal é a velocidade e a imprudência ética com que despe uma pele para vestir outra.

Perante tal reviravolta resta-me agradecer ao Sr. Presidente (ou será ao Sr. Analista!) o tempo de antena. O que aqui escrevi deve-lhe ter tocado bem fundo para que tal pudesse suceder. Perante tanta unanimidade no executivo da Câmara Municipal, percebo que não aceite muito bem as opiniões diferentes, e que se sinta na obrigação de rebater as vozes dissonantes. Naquilo que me toca é com especial agrado que constato a importância das minhas opiniões aos seus olhos, atrevo-me a dizer que o Sr. Analista Augusto Pólvora me elege e ao Bloco de Esquerda como líder da oposição no concelho de Sesimbra à sua governação. Esta é apenas mais uma das razões pelas quais é importante que o Bloco de Esquerda faça parte do executivo da Câmara Municipal de Sesimbra nas próximas eleições. Nem que seja para se sentir vivo, para ter alguém com quem discutir, ser sempre dono da razão é coisa para aborrecer qualquer um, até alguém que consegue ser presidente e analista de si próprio.

Obrigado pela atenção, estou sinceramente sensibilizado.

Por outro lado e por razões óbvias tenho de lhe pedir desculpa por não concordar consigo. Depois de ler a tentativa do Sr. Presidente de rebater os argumentos que apresentei para sustentar aquilo que chamei de incoerências à sua governação, mais convencido fiquei de que tinha razão. Sr. Presidente, também por isso, o meu obrigado.
Sobre as superfícies comerciais que têm sido abertas no concelho, o Sr. Presidente diz que durante o seu mandato não foi viabilizada nenhuma nova, esquecendo-se de referir que anteriormente tinha responsabilidades no executivo e que não há memória de se ter oposto, ou sequer que tenha levantado a voz para equacionar a influência nefasta de tanta superfície comercial.
Quanto à cedência de terrenos à Santa Casa da Misericórdia, mais do mesmo. Ou seja, depois da explicação do Sr. Presidente mais certeza tenho na minha posição. Nada tenho contra a cedência de terrenos municipais a instituições, como a Santa Casa da Misericórdia, no sentido de melhor a oferta de cuidados de saúde à população. Mas defender o sistema de saúde público e depois doar um terreno, sabendo que a infra-estrutura nele criada será explorada por privados tendo em vista a, óbvia, obtenção de lucro é incoerente. Mesmo desenvolvendo-se todo este enredo no campo das hipóteses, porque a assembleia-geral da Santa Casa, a Câmara e a Assembleia Municipal ainda têm de se pronunciar a incoerência não deixa de existir.

Sobre a Mata de Sesimbra, a incoerência cruza-se com a falsidade e a falta de senso.
Quando o Sr. Presidente escreve na sua crónica de resposta que o Plano de Pormenor da Zona Sul da Mata de Sesimbra «…é fundamental (…) para garantir a implementação do Plano de Acessibilidades ao Concelho de Sesimbra…» esqueceu-se de dizer que parte desse financiamento terá de vir da administração central e que nem a Câmara nem os promotores definem a estratégia de investimento do governo. Por acaso e só por acaso a península de Setúbal, onde nos encontramos, nem é uma prioridade de investimento na área do turismo.
Sobre isto há algo ainda mais preocupante e assustador, que resulta da urgência com que se quer fazer avançar um processo amplamente contestado de uma forma suspeitamente acelerada e escondida. Três dias depois do Natal foi votado na reunião de Câmara quase sem se dar por isso, durante o mês de Janeiro irá à Assembleia Municipal. Num momento em que a conjectura geo-estratégica do país está em efervescência com a possibilidade de construção de um novo aeroporto internacional na margem sul, com o reagrupamento das regiões de turismo tudo parece aconselhar prudência e calma. Contudo, a Câmara Municipal de Sesimbra procede de forma inversa, algo parece estar a ser escondido.

Para concluir e aproveitando a mesma linguagem do Sr. Presidente na sua última crónica, gostaria de dizer sobre este assunto, que «O Plano de Pormenor da Mata de Sesimbra não é um “mal necessário” mas sim um documento estratégico» para a morte do nosso concelho.

Crónica escrita por mim e publicada no Jornal Raio de Luz em Janeiro de 2008

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