17/09/2014
Lembra-me
Verão, apesar da fogosidade do calor, é, por norma, a estação dos temas amenos, como diria o poeta e cantor do cão engarrafado. A saudade e a memória entrecruzam-se bastas vezes com essas amenidades que no fim de contas não são mais do que aquilo que temos de mais significativo enquanto por aqui andamos. Foi neste clima que durante as férias aproveitei para reler e sobretudo rever a primeira edição do livro de Mª. Alfreda Cruz dedicada à “Pesca e aos pescadores de Sesimbra”, datado de 1966.
Para além da descrição feita ao longo do livro, o que mais me cativou foram as imagens fotográficas presentes no livro. Apesar de pertencerem a uma memória que não é minha, tive o prazer de fazer uma leitura partilhada com os meus pais numa destas frias noites de Agosto. A busca dos locais e sua catalogação foi um exercício divertido. Tão divertido como difícil foi sobrepor o mapa emocional de uma Sesimbra que já não existe, com a Sesimbra actual. O livro e a conversa permitiram que me transportasse para as minhas memórias, que embora mais recentes, também me levam a uma Sesimbra muito diferente da de hoje.
Mais do que avaliar o que está melhor ou pior, interessou-me perceber as diferenças e lembrar-me. Gosto muito mais de me lembrar do que de recordar.
As memórias, sobretudo as boas e felizes, são um exercício que nos faz sentir tão bem. É necessário ter o cuidado de não entrarmos em excessos de nostalgia que acabam por nos deixar sempre um pouco tristes. Perceber a importância das coisas passadas, a que no momento em que ocorreram não demos qualquer relevo, é encantador.
As imagens dos tectos das “lojas de companha” decoradas com cabaças fazem-me lembrar os jogos de futebol que fazia com a malta do bairro da cooperativa, no meio da estrada, tão pouco frequentada, que segue para o tribunal.
As imagens do casario e dos bairros da época lembram-me os grupos de jovens, que pontificavam em cada um dos aglomerados, do “largo da Guarda” da “Calviteira”, da “Fonte Nova”, do “Bairro de Pescadores” e do “Bairro da Cooperativa” que alegravam uma vila cheia de vida e juventude.
Lembro-me tanto, que me esqueço das lembranças que terão meus filhos duma Sesimbra com gente dentro.
Carlos Alexandre Macedo
varamessaiola.blogspot.com
Esta texto não obedece ao novo acordo ortográfico por opção do autor
25 Agosto de 2014
Publicado n'O Sesimbrense'
07/03/2014
Pesca. Porque não?
Este será o primeiro texto que tentará dar resposta ao repto que me foi lançado pela direcção da Liga dos Amigos de Sesimbra, de escrever sobre pesca nas páginas do seu jornal. Como pexito orgulhoso que sou, vou usar uma típica expressão pexita para nomear esta minha rúbrica que tudo farei por manter com regularidade.
Escrever n'O Sesimbrense, assume para mim redobrada importância, pois foi o primeiro que publicou textos meus. Já passaram alguns anos desde que aqui escrevi pela primeira vez umas crónicas de cariz satírico, que a direcção do jornal da época teve a amabilidade de publicar.
Num momento particularmente difícil para as pescas nacionais e sesimbrenses, em virtude das difíceis condições de mar que se tem verificado desde o final do ano passado. Parece-me, também por isso, importante deixar um sinal positivo e de esperança, neste meu primeiro texto.
Por ter crescido nesse meio, mentiria se dissesse que não compreendia essas atitudes, no contexto em que foram proferidas.
Na geração dos meus pais e das que os antecederam, isso não era uma opção. Ou melhor, ser pescador era a única opção. Não sei se poderá dizer que os jovens eram forçados a "ir para o mar", mas na grande maioria dos casos essa era a saída natural. Tenho dito e reafirmado em vários fóruns, e faço-o obviamente por essa ser uma convicção, que ser pescador não é uma profissão, é uma forma de vida. Nesses anos idos, os jovens cresciam entre os anzóis e as redes, saiam da escola e iam para as "lojas de companha" ajudar a preparar as artes. Esse processo de iniciação introduzia os jovens no sector. Aos poucos iam aprendendo da arte, iam-se enturmando com os "camaradas" do barco. Ao fim ao cabo iam tornando-se pescadores quase sem dar por isso.
A dureza da vida de pescador, somada com o repúdio inconsciente de não terem tido opção, fez com que os pais desincentivassem os seus filhos a seguirem essa vida. Isso não é forçosamente mau, nem como disse atrás deve ser criticado, era reflexo da experiência de vida e de um determinado contexto. No entanto, terá ajudado a estigmatizar a profissão. Algo que nem os que tudo faziam para afastar os filhos do mar pretendiam, pois não conheço nenhum pescador que não se orgulhe de o ser. Foi uma espécie de reflexo indesejado.
Não só pelas razões que relatei, a realidade actual é que existem poucos jovens no mar. E se existem poucos jovens com carteira profissional a exercer a actividade, lei-a-se, pescadores com cédula marítima. Existem ainda menos com habilitações superiores. Ou seja, para além da falta de pescadores, ainda se sente mais a falta de arrais, mestres, contramestres, mecânicos, etc.
E era aqui que queria chegar para falar do sinal positivo e da mensagem de esperança que queria deixar com este texto.
Na vida, tenho uma máxima de que se formos competentes naquilo que fazemos seremos bem sucedidos. É assim nas empresas, na escola, no desporto, nas artes, etc. Na pesca também é assim. A falta de activos, pode e deve ser vista por muitos jovens desempregados ou em inicio de carreira como uma oportunidade. Nomeadamente, com a possibilidade de com trabalho e dedicação existir a necessidade de sangue novo para ocupar as hierarquias superiores das embarcações. Obviamente que não existe uma linha de ascensão directa, é preciso fazer o caminho e percorrer todos os trilhos necessários até ao topo. Mas existe um espaço por ocupar, com uma aliciante particularmente determinante nas sociedades modernas. Aqueles que forem competentes e revelem capacidade para assumir os destinos duma embarcação, são remunerados em consonância com as responsabilidade e a dureza do trabalho, podendo auferir remunerações muito acima da média nacional. Felizmente não digo isto como mero exercício teórico, pois existem, infelizmente poucos, jovens nestas condições em embarcações da pesca artesanal de Sesimbra.
As condições das embarcações são hoje muito melhores, os níveis de mecanização do trabalho é muito maior, o nível de equipamento de navegação e segurança é incomparavelmente melhor.
Desengane-se quem achar que existem percursos simples, ou "el dorados", mas gostaria que cada vez mais os nossos jovens se perguntassem:
Pesca. Porque não?
Escrever n'O Sesimbrense, assume para mim redobrada importância, pois foi o primeiro que publicou textos meus. Já passaram alguns anos desde que aqui escrevi pela primeira vez umas crónicas de cariz satírico, que a direcção do jornal da época teve a amabilidade de publicar.
Num momento particularmente difícil para as pescas nacionais e sesimbrenses, em virtude das difíceis condições de mar que se tem verificado desde o final do ano passado. Parece-me, também por isso, importante deixar um sinal positivo e de esperança, neste meu primeiro texto.
Eu e muitos da minha geração cresceram a ouvir expressões dos mais velhos, sobretudo daqueles que nos eram próximos e que nos queriam bem, como "o mar é um poço!"; "Não queira ir para o mar!", "Filho meu não vai para o mar!". Sem querer desvalorizar as boas intenções dessas afirmações, nem fazer juízos de valor sobre quem as proferiu. A verdade é que hoje temos um reflexo mais ou menos visível deste tipo de tomadas de posição. A escassa entrada de jovens no sector.
Por ter crescido nesse meio, mentiria se dissesse que não compreendia essas atitudes, no contexto em que foram proferidas.
Na geração dos meus pais e das que os antecederam, isso não era uma opção. Ou melhor, ser pescador era a única opção. Não sei se poderá dizer que os jovens eram forçados a "ir para o mar", mas na grande maioria dos casos essa era a saída natural. Tenho dito e reafirmado em vários fóruns, e faço-o obviamente por essa ser uma convicção, que ser pescador não é uma profissão, é uma forma de vida. Nesses anos idos, os jovens cresciam entre os anzóis e as redes, saiam da escola e iam para as "lojas de companha" ajudar a preparar as artes. Esse processo de iniciação introduzia os jovens no sector. Aos poucos iam aprendendo da arte, iam-se enturmando com os "camaradas" do barco. Ao fim ao cabo iam tornando-se pescadores quase sem dar por isso.
A dureza da vida de pescador, somada com o repúdio inconsciente de não terem tido opção, fez com que os pais desincentivassem os seus filhos a seguirem essa vida. Isso não é forçosamente mau, nem como disse atrás deve ser criticado, era reflexo da experiência de vida e de um determinado contexto. No entanto, terá ajudado a estigmatizar a profissão. Algo que nem os que tudo faziam para afastar os filhos do mar pretendiam, pois não conheço nenhum pescador que não se orgulhe de o ser. Foi uma espécie de reflexo indesejado.
Não só pelas razões que relatei, a realidade actual é que existem poucos jovens no mar. E se existem poucos jovens com carteira profissional a exercer a actividade, lei-a-se, pescadores com cédula marítima. Existem ainda menos com habilitações superiores. Ou seja, para além da falta de pescadores, ainda se sente mais a falta de arrais, mestres, contramestres, mecânicos, etc.
E era aqui que queria chegar para falar do sinal positivo e da mensagem de esperança que queria deixar com este texto.
Na vida, tenho uma máxima de que se formos competentes naquilo que fazemos seremos bem sucedidos. É assim nas empresas, na escola, no desporto, nas artes, etc. Na pesca também é assim. A falta de activos, pode e deve ser vista por muitos jovens desempregados ou em inicio de carreira como uma oportunidade. Nomeadamente, com a possibilidade de com trabalho e dedicação existir a necessidade de sangue novo para ocupar as hierarquias superiores das embarcações. Obviamente que não existe uma linha de ascensão directa, é preciso fazer o caminho e percorrer todos os trilhos necessários até ao topo. Mas existe um espaço por ocupar, com uma aliciante particularmente determinante nas sociedades modernas. Aqueles que forem competentes e revelem capacidade para assumir os destinos duma embarcação, são remunerados em consonância com as responsabilidade e a dureza do trabalho, podendo auferir remunerações muito acima da média nacional. Felizmente não digo isto como mero exercício teórico, pois existem, infelizmente poucos, jovens nestas condições em embarcações da pesca artesanal de Sesimbra.
As condições das embarcações são hoje muito melhores, os níveis de mecanização do trabalho é muito maior, o nível de equipamento de navegação e segurança é incomparavelmente melhor.
Desengane-se quem achar que existem percursos simples, ou "el dorados", mas gostaria que cada vez mais os nossos jovens se perguntassem:
Pesca. Porque não?
16/07/2010
Os custos da demagogia para ganhar eleições
Com toda a pompa e circunstância que nos vem habituando, o executivo municipal anuncia, na última edição da revista propagandística do Partido Comunista no concelho (vulgarmente denominado de “Sesimbra Município”), o futuro Parque da Ribeira. A primeira fase deste novo espaço verde, a criar na Quinta do Conde, resultará, nas palavras do presidente, da colaboração da Câmara Municipal com os “promotores de diversos espaços comerciais a localizar a nascente da EN10, entre o nó desnivelado e a A2”. Estamos na presença de mais uma das parcerias público-privadas promovidas pelo município. Se dúvidas houvessem, o edil desfê-las no conveniente editorial que assina no referido boletim propagandístico (que, sendo em boa parte suportado pelos contribuintes, deveria acima de tudo prestar um serviço público, de informação e formação, ao invés de apenas propagandear) ao afirmar que este “é um modelo de parceria que já se revelou profícuo no Parque da Vila”. Nada de novo portanto. As grandes superfícies comerciais chegam a Sesimbra (ou à freguesia da Quinta do Conde, neste caso específico), acenam com as suas notas verdes, e possibilitam à Câmara fazer algo com visibilidade em troca de um crescimento desproporcional e desregulado e voilá… a obra nasce. Obviamente, que a câmara nunca fez, nem fará (porque não lhe interessa) qualquer estudo ou avaliação para perceber quais os custos de existirem tantas superfícies comerciais na Quinta do Conde, quantos postos de trabalho duradouros se perdem e quantos postos de trabalho precário se ganham, qual o emprego qualificado que se cria, quais os danos criados aos pequenos empresários e comerciantes da freguesia, quais os impactos na vida social da freguesia, na criação e/ou aprofundamento do conceito de vizinhança, de proximidade, de identificação com a terra em que se vive. Alguma vez, alguém mediu se a relação entre os postos de trabalho criados pelas grandes superfícies comerciais e os perdidos no comércio tradicional beneficia o concelho? Uma coisa é certa, a riqueza dos pequenos comerciantes fica no concelho e a dos Belmiros e Soares dos Santos não.
Alguém já se perguntou porque razão a criação de espaços verdes depende dos interesses comerciais avulsos de grandes grupos e não são antes pensadas de forma integrada no concelho de forma estratégica e integrada numa política de criação de espaço público, ou seja, pensando nas necessidades dos municípes? Porque raio não existe nenhum grande espaço verde digno desse nome no concelho desenvolvido única e exclusivamente por iniciativa dos mais recentes executivos municipais? Não me digam que o partido comunista não teve tempo desde o 25 de Abril? Era mais importante possibilitar, promover e abrir caminho à criação de uma cidade da dimensão de Viseu na Mata de Sesimbra? Felizmente para nós que o mercado do imobiliário tem destas coisas, rebenta! Não sei se por inexperiência dos comunistas em práticas neoliberais, se pela insustentabilidade dos mercados especulativos, ou se por ambas. Alguém alguma vez se perguntou porque razão a vila de Sesimbra não tem um parque verde, e a freguesia do Castelo viu o seu circuito de manutenção transformado em estaleiro municipal? Há racionalidade nisto?
Não, claro que não. Há demagogia e uma velha escola que permite ganhar eleições.
A meio deste mês realiza-se no concelho um festival de rock, e concelho que é concelho tem de ter um festival de rock. Se o concelho tiver pretensões de ser turístico, ainda é mais importante que decorra na sua área geográfica um festival de rock. Eu percebo isso tudo, só me faz um bocado de “espécie” que o local escolhido para a realização do concerto de rock seja na proximidade de uma zona reconhecida pelo seu interesse ecológico e que tenha sido inclusive alvo de parcerias entre a Câmara Municipal, o Instituto de Conservação da Natureza, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, etc. É verdade que o patrocinador do evento é uma marca de cervejas, facto que não conflitua, à partida, com uma zona húmida como a lagoa de albufeira. Ainda assim convém perceber o comportamento das importantes espécies de aves que nidificam nessa zona. E, das três, uma: ou as aves são surdas, ou gostam de prince (imaginem garças, mergulhões e rouxinóis a curtir o “Sexy mother fucker”), ou a câmara municipal vai oferecer-lhes tampões.
publicado na edição de 9 de Julho do Jornal "Nova Morada"
Alguém já se perguntou porque razão a criação de espaços verdes depende dos interesses comerciais avulsos de grandes grupos e não são antes pensadas de forma integrada no concelho de forma estratégica e integrada numa política de criação de espaço público, ou seja, pensando nas necessidades dos municípes? Porque raio não existe nenhum grande espaço verde digno desse nome no concelho desenvolvido única e exclusivamente por iniciativa dos mais recentes executivos municipais? Não me digam que o partido comunista não teve tempo desde o 25 de Abril? Era mais importante possibilitar, promover e abrir caminho à criação de uma cidade da dimensão de Viseu na Mata de Sesimbra? Felizmente para nós que o mercado do imobiliário tem destas coisas, rebenta! Não sei se por inexperiência dos comunistas em práticas neoliberais, se pela insustentabilidade dos mercados especulativos, ou se por ambas. Alguém alguma vez se perguntou porque razão a vila de Sesimbra não tem um parque verde, e a freguesia do Castelo viu o seu circuito de manutenção transformado em estaleiro municipal? Há racionalidade nisto?
Não, claro que não. Há demagogia e uma velha escola que permite ganhar eleições.
A meio deste mês realiza-se no concelho um festival de rock, e concelho que é concelho tem de ter um festival de rock. Se o concelho tiver pretensões de ser turístico, ainda é mais importante que decorra na sua área geográfica um festival de rock. Eu percebo isso tudo, só me faz um bocado de “espécie” que o local escolhido para a realização do concerto de rock seja na proximidade de uma zona reconhecida pelo seu interesse ecológico e que tenha sido inclusive alvo de parcerias entre a Câmara Municipal, o Instituto de Conservação da Natureza, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, etc. É verdade que o patrocinador do evento é uma marca de cervejas, facto que não conflitua, à partida, com uma zona húmida como a lagoa de albufeira. Ainda assim convém perceber o comportamento das importantes espécies de aves que nidificam nessa zona. E, das três, uma: ou as aves são surdas, ou gostam de prince (imaginem garças, mergulhões e rouxinóis a curtir o “Sexy mother fucker”), ou a câmara municipal vai oferecer-lhes tampões.
publicado na edição de 9 de Julho do Jornal "Nova Morada"
24/04/2010
Sesimbra depois de Conceição Silva
"A arquitectura turística de qualidade nasceu em Sesimbra, nos anos 60, pela mão de Conceição Silva. Agora que se discute a sua eventual classificação, a Ordem dos Arquitectos decidiu organizar uma visita guiada ao hotel e aldeamentos que o arquitecto fez construir na vila. Luís Maio (texto) e Daniel Rocha (fotos) foram admirar a excelência dessas obras e as atrocidades que cresceram em volta"
Tão próximo do dia em que se comemora a liberdade em Portugal, o jornal "Público" faz notícia de um evento promovido pela Ordem dos Arquitectos com o apoio da Câmara Municipal de Sesimbra, e que esta última tudo fez por omitir e esconder aos sesimbrenses.
Comprem o jornal, está lá tudo, a qualidade das obras, a mais valia que trás a Sesimbra, as ameaças que estão a sofrer por incúria do executivo municipal, o papel do grupo de reflexão "OBSERVA" na tentativa de classificar a obra, o desprezo dado pelo executivo a uma recomendação da Assembleia Municipal no sentido de classificar as obras, o vexame a que foi exposto o arquitecto presidente da Câmara por distintos arquitectos presentes, as acusações de que foi alvo pela sua incúria e desrespeito pelas obras.
Por mais que lhe atiremos terra para cima, a verdade vem sempre ao de cima, mesmo quando menos esperamos.
04/04/2010
É bom mas não é para mim!
Como prometido na minha última crónica, voltarei hoje à temática do comunismo neoliberal que vem fazendo escola no nosso concelho.
No passado dia 13 de Março, decorreu em Sesimbra uma iniciativa promovida pela secção da região sul da Ordem dos Arquitectos. Essa iniciativa, no seguimento de uma outra do Grupo de Reflexão «OBSERVA» no final de 2008, centrava-se na obra do arquitecto Conceição Silva em Sesimbra. Nesta iniciativa, como na anterior, ocorreu uma visita às 3 obras do arquitecto - o mítico “Hotel do Mar”, o bem enquadrado “Condomínio do Bloco do Moinho” e o imponente “Condomínio Porto de Abrigo” (também conhecido por edifício da ERG). Novidade foi a apresentação no Cineteatro João Mota, de um filme/documentário sobre o Hotel, realizado por Fonseca e Costa logo após a sua conclusão, no já longínquo ano de 1965. A beleza de Sesimbra, do hotel e do próprio filme, que cumpre cabalmente o objectivo de exibir em imagens as razões que levaram o distinto arquitecto Conceição Silva a apaixonar-se pela Vila, seriam motivo para muitas considerações e dissertações. No entanto parece-me relevante o facto de a exibição do documentário, bem como a participação no debate que a precedeu, tenham sido vedadas aos munícipes. Não sei se por prever a forma bastante crítica como distintos representantes da classe se dirigiram ao arquitecto que preside à Câmara Municipal de Sesimbra, ou se por uma mais simplória, mas premeditada, tentativa de esconder a importância cultural da obra, ou se por outra razão qualquer, a verdade é que esta postura elitista é sintomática do tal comunismo neoliberal de que tenho falado. Sintomático também é a forma como o arquitecto que preside ao executivo municipal fechou o debate. Disse o arquitecto que não via necessidade, nem relevância em classificar de interesse municipal as obras de um ícone da arquitectura portuguesa do final do século passado, que escolheu Sesimbra para exibir a sua arte, tendo (para além das obras edificadas) pensado na Vila e no seu crescimento de forma harmoniosa, tendo produzido esboços e projectos para a quase totalidade do território de Sesimbra. Mas, não se opõe o arquitecto/presidente que outra entidade o faça, tendo até assumido que aplaudiria uma classificação de interesse nacional.
Ou seja, naquilo em que depende apenas de si (a Classificação Municipal) o presidente não mexerá uma palha, aprovará até todos os projectos possíveis que ponham em causa o valor das obras, como é o exemplo do empreendimento Sesimbra Shell. Contudo, se o Estado, por intermédio do IGESPAR, decidir classificar as obras como sendo de interesse nacional, protegendo-as das agressões, apoiadas pelo executivo, o arquitecto/presidente aplaude. Será?
Ai se Marx sabe disto…
17 Março de 2010 (Publicado no Jornal Nova Morada)
No passado dia 13 de Março, decorreu em Sesimbra uma iniciativa promovida pela secção da região sul da Ordem dos Arquitectos. Essa iniciativa, no seguimento de uma outra do Grupo de Reflexão «OBSERVA» no final de 2008, centrava-se na obra do arquitecto Conceição Silva em Sesimbra. Nesta iniciativa, como na anterior, ocorreu uma visita às 3 obras do arquitecto - o mítico “Hotel do Mar”, o bem enquadrado “Condomínio do Bloco do Moinho” e o imponente “Condomínio Porto de Abrigo” (também conhecido por edifício da ERG). Novidade foi a apresentação no Cineteatro João Mota, de um filme/documentário sobre o Hotel, realizado por Fonseca e Costa logo após a sua conclusão, no já longínquo ano de 1965. A beleza de Sesimbra, do hotel e do próprio filme, que cumpre cabalmente o objectivo de exibir em imagens as razões que levaram o distinto arquitecto Conceição Silva a apaixonar-se pela Vila, seriam motivo para muitas considerações e dissertações. No entanto parece-me relevante o facto de a exibição do documentário, bem como a participação no debate que a precedeu, tenham sido vedadas aos munícipes. Não sei se por prever a forma bastante crítica como distintos representantes da classe se dirigiram ao arquitecto que preside à Câmara Municipal de Sesimbra, ou se por uma mais simplória, mas premeditada, tentativa de esconder a importância cultural da obra, ou se por outra razão qualquer, a verdade é que esta postura elitista é sintomática do tal comunismo neoliberal de que tenho falado. Sintomático também é a forma como o arquitecto que preside ao executivo municipal fechou o debate. Disse o arquitecto que não via necessidade, nem relevância em classificar de interesse municipal as obras de um ícone da arquitectura portuguesa do final do século passado, que escolheu Sesimbra para exibir a sua arte, tendo (para além das obras edificadas) pensado na Vila e no seu crescimento de forma harmoniosa, tendo produzido esboços e projectos para a quase totalidade do território de Sesimbra. Mas, não se opõe o arquitecto/presidente que outra entidade o faça, tendo até assumido que aplaudiria uma classificação de interesse nacional.
Ou seja, naquilo em que depende apenas de si (a Classificação Municipal) o presidente não mexerá uma palha, aprovará até todos os projectos possíveis que ponham em causa o valor das obras, como é o exemplo do empreendimento Sesimbra Shell. Contudo, se o Estado, por intermédio do IGESPAR, decidir classificar as obras como sendo de interesse nacional, protegendo-as das agressões, apoiadas pelo executivo, o arquitecto/presidente aplaude. Será?
Ai se Marx sabe disto…
17 Março de 2010 (Publicado no Jornal Nova Morada)
12/02/2010
Curtos de Vista
Sesimbra é, historicamente, uma vila de gente humilde ligada às actividades primárias. A pesca e a matriz cultural decorrente dessa actividade são marcos na forma de ser e estar da comunidade ‘pexita’. Ainda assim, e mesmo com todas as dificuldades inerentes a uma vida dura e de remuneração aleatória e incerta, o povo desta terra tinha algumas regalias que pareciam prolongar-lhes a vida e que os motivava a ultrapassar todas as dificuldades.
A maior de todas as benesses dadas pela natureza aos habitantes de Sesimbra era a possibilidade de olhar o mar, todos os dias, a todas as horas. Longe vai o tempo em que não havia janela que não permitisse ver o mar, mais longe ou mais perto. Por inteiro ou num recanto da janela, lá estava ele tomando conta de todos, animando-lhes os dias nas horas tristes e temperando a euforia das horas felizes.
Do bairro dos Pescadores ao bairro Infante Dom Henrique todos tinham o seu pequeno miradouro de fundo azul. Hoje, e de há vários anos para cá, um fenómeno político-estratégico borrou o quadro, criando paredes de cimento na primeira linha da praia que bloquearam essa regalia.
Hoje, salvo raras excepções, a vista de mar é um privilégio directamente proporcional à conta bancária. Essa visão redutora que permitiu ocupar todos os espaços da primeira linha com alguns dos prédios mais altos da vila, não só ve(n)dou o acesso dos ‘pexitos’ ao seu mar, como criou uma barreira visual que castrou o sentir salgado dos seres autóctones desta terra.
Seja pelos preços incomportáveis dos apartamentos à beira-mar para a maioria das carteiras, seja pela castração visual que a colocação de um muro representa, a verdade é que os sesimbrenses estão mais pobres.
Até admito que muitos poderão não ter reparado, nem sequer dado por isso, mas invariavelmente todos percebem as consequências desta nova vila que, em certos momentos, quase não reconhecemos. Se formos a muitos pontos da vila e olharmos para sul, em vez do mar, como outrora, apenas vimos as costas de um qualquer empreendimento e ouvimos o grito que uma visão vedada ensurdece.
O peso dessas decisões sobre a identidade de um povo é difícil de medir, mas é tão devastador quanto o fogo num pinhal. Pena que o cimento e o betão são muito mais duradouros.
Este é o primeiro de um conjunto de textos que dedicarei aos princípios do comunismo neoliberal que tem norteado os destinos do nosso concelho, bem como aos seus reflexos.
Texto publicado na edição de 12 de Fevereiro de 2010 no Jornal Nova Morada.
04/01/2010
Subtilezas - Parte II
Fiquei hoje a saber que, na opinião do PSD, as pessoas do mesmo sexo se podem casar desde que ...
... não se casem!
Quem se quererá casar se se puder unir de facto.
Vejam o mar de oportunidades que se abre, por exemplo, na área gráfica com impressão de convites para unir de facto, na área hoteleira com os caterings especializados em uniões de facto. Os novos empregos que se criam, como organizadores de uniões de facto, cantores de uniões de facto, fotógrafos de uniões de facto, etc.
De facto...
Subtilezas - Parte I
10/12/2009
Muros
São muitos os muros com que nos deparamos na vida. Mediante a nossa força e disposição, saltamos, quebramos ou furamos os muros que encontramos.
A forma de os ultrapassar depende, em boa parte, da sua base de sustentação. Por vezes é até melhor contorná-los. Existem muros e muros, muros bons e muros maus.
Existe uma coisa boa nos muros; fazem-nos mais fortes. Enfrentar um muro é normalmente uma tarefa árdua e ultrapassá-lo é um exercício de sacrifício e esforço compensadores.
Os muros têm, por vezes, recursos que quem os enfrenta não têm. Por muito frágeis que possam ser (e muitas vezes são-no), no seu interior, os muros, têm sempre uma couraça aparentemente inexpugnável.
Existem muros pintados de verde, coisas com mais de 20.000 tijolos, feitos de esquemas e de mentiras, mas apresentados como sustentáculos necessários ao desenvolvimento, mas que, no fundo, quando confrontados de forma séria, são frágeis e argilosos no seu interior. Cheiram tão mal estes muros… São muros de vergonha e irresponsabilidade. São muros muito altos, talvez inalcançáveis para os comuns mortais, mas que se desfazem com o tempo deixando um rastro de destruição nos sítios onde são levantados, pois o seu interior feio, porco e sujo rompe a couraça verde que os escondeu. Infelizmente, estes muros nunca deviam ter existido, mas a estupidez e a ambição desmesurada dos homens permite a sua criação. O resultado nunca é bom e o efeito leva à sua queda, muitas vezes tardia e com danos irreparáveis.
Existem também os muros da facilidade, que se constroem em função das sombras que criam. Quantos mais se colocam à sombra do muro, maior e mais forte este se torna, todos querem entrar. Todos querem viver na sombra do muro, todos pedem aos donos do muro um lugarzinho, por mais pequeno e irrelevante que seja. O que interessa é entrar, depois se vê! Tudo é fácil, à sombra do muro. Tudo é certo e garantido, à sombra do muro. Quanto mais fácil é, mais são os que querem entrar. Os donos do muro querem que entre cada vez mais gente porque essa dependência da sua sombra dá-lhes poder, torna-os relevantes, abre-lhes portas e reforça-lhes a posição. Quanto mais deles dependem, mais pedem e mais fortes ficam os donos do muro. O problema é que o muro para fornecer toda essa sombra, fica tão alto, tão alto que acaba irremediavelmente por cair. Nessa altura, normalmente, muda-se o dono e começa-se a levantar outra vez o muro e a dar nova sombra.
Decorreram 20 anos da quebra do muro que dividia a Alemanha e o mundo. Ainda bem que pelo menos esse muro caiu.
Texto publicado no Jornal Nova Morada de 4 de Dezembro de 2009
A forma de os ultrapassar depende, em boa parte, da sua base de sustentação. Por vezes é até melhor contorná-los. Existem muros e muros, muros bons e muros maus.
Existe uma coisa boa nos muros; fazem-nos mais fortes. Enfrentar um muro é normalmente uma tarefa árdua e ultrapassá-lo é um exercício de sacrifício e esforço compensadores.
Os muros têm, por vezes, recursos que quem os enfrenta não têm. Por muito frágeis que possam ser (e muitas vezes são-no), no seu interior, os muros, têm sempre uma couraça aparentemente inexpugnável.
Existem muros pintados de verde, coisas com mais de 20.000 tijolos, feitos de esquemas e de mentiras, mas apresentados como sustentáculos necessários ao desenvolvimento, mas que, no fundo, quando confrontados de forma séria, são frágeis e argilosos no seu interior. Cheiram tão mal estes muros… São muros de vergonha e irresponsabilidade. São muros muito altos, talvez inalcançáveis para os comuns mortais, mas que se desfazem com o tempo deixando um rastro de destruição nos sítios onde são levantados, pois o seu interior feio, porco e sujo rompe a couraça verde que os escondeu. Infelizmente, estes muros nunca deviam ter existido, mas a estupidez e a ambição desmesurada dos homens permite a sua criação. O resultado nunca é bom e o efeito leva à sua queda, muitas vezes tardia e com danos irreparáveis.
Existem também os muros da facilidade, que se constroem em função das sombras que criam. Quantos mais se colocam à sombra do muro, maior e mais forte este se torna, todos querem entrar. Todos querem viver na sombra do muro, todos pedem aos donos do muro um lugarzinho, por mais pequeno e irrelevante que seja. O que interessa é entrar, depois se vê! Tudo é fácil, à sombra do muro. Tudo é certo e garantido, à sombra do muro. Quanto mais fácil é, mais são os que querem entrar. Os donos do muro querem que entre cada vez mais gente porque essa dependência da sua sombra dá-lhes poder, torna-os relevantes, abre-lhes portas e reforça-lhes a posição. Quanto mais deles dependem, mais pedem e mais fortes ficam os donos do muro. O problema é que o muro para fornecer toda essa sombra, fica tão alto, tão alto que acaba irremediavelmente por cair. Nessa altura, normalmente, muda-se o dono e começa-se a levantar outra vez o muro e a dar nova sombra.
Decorreram 20 anos da quebra do muro que dividia a Alemanha e o mundo. Ainda bem que pelo menos esse muro caiu.
Texto publicado no Jornal Nova Morada de 4 de Dezembro de 2009
03/11/2009
Nova campanha negra...
A pesca de Sesimbra está a ser alvo de uma campanha negra que tem passado despercebida a algumas pessoas menos atentas mas que pode ganhar contornos preocupantes.
A Organização Não Governamental de Ambiente (ONGA) Greenpeace está a desenvolver uma campanha contra a pescaria de profundidade e contra a captura de espécies de profundidade, consubtânciando a sua acção no facto de as pescas de profundidade desenvolvidas por barcos de arrasto causam danos irreversíveis nos ecossistemas marinho. No seu site, a Greenpeace, solicita aos cibernautas que denunciem as grandes superfícies que comercializem um conjunto de espécies, nomeadamente o peixe-espada preto.
A irresponsabilidade e o desconhecimento que leva esta ONGA a considerar industrial a pesca dedicada ao peixe-espada preto, praticada pelas embarcações portuguesas (Sesimbra) é de uma ignorância, que só pode ser justificada pelo facto de os argumentos esgrimidos, resultarem da cópia de acções similares desenvolvidas pela mesma organização noutros países, como por exemplo em França, onde a pesca de profundidade (como quase toda a actividade pesqueira) é feita por embarcações de arrasto. Só assim se entende que juntamente com o peixe-espada preto sejam referenceadas espécies que não são capturadas nas nossas águas como a Marlonga negra e o Alabote da Gronelândia?!?!?!??!
A opinião pública merece ser bem informada e a realidade da pesca em Portugal é bastante diferente da praticada noutros pontos da Europa e do Mundo. A sustentabilidade faz todo o sentido, deve ser melhorada e trabalhada, mas não com desinformação nem campanhas negras contra os pescadores artesanais.
A Organização Não Governamental de Ambiente (ONGA) Greenpeace está a desenvolver uma campanha contra a pescaria de profundidade e contra a captura de espécies de profundidade, consubtânciando a sua acção no facto de as pescas de profundidade desenvolvidas por barcos de arrasto causam danos irreversíveis nos ecossistemas marinho. No seu site, a Greenpeace, solicita aos cibernautas que denunciem as grandes superfícies que comercializem um conjunto de espécies, nomeadamente o peixe-espada preto.
A irresponsabilidade e o desconhecimento que leva esta ONGA a considerar industrial a pesca dedicada ao peixe-espada preto, praticada pelas embarcações portuguesas (Sesimbra) é de uma ignorância, que só pode ser justificada pelo facto de os argumentos esgrimidos, resultarem da cópia de acções similares desenvolvidas pela mesma organização noutros países, como por exemplo em França, onde a pesca de profundidade (como quase toda a actividade pesqueira) é feita por embarcações de arrasto. Só assim se entende que juntamente com o peixe-espada preto sejam referenceadas espécies que não são capturadas nas nossas águas como a Marlonga negra e o Alabote da Gronelândia?!?!?!??!
A opinião pública merece ser bem informada e a realidade da pesca em Portugal é bastante diferente da praticada noutros pontos da Europa e do Mundo. A sustentabilidade faz todo o sentido, deve ser melhorada e trabalhada, mas não com desinformação nem campanhas negras contra os pescadores artesanais.
02/11/2009
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